Um gestor afirmar que a culpa do apagão é do técnico que não religou um
sistema de proteção, ou o diretor de hospital culpar uma técnica de
enfermagem pela morte de um paciente é uma tentativa para minimizar suas
responsabilidades em sua esfera de atuação. Clique em mais informações e saiba mais sobre esse assunto
Se você é gerente, jamais copie a postura desses líderes de
organizações públicas que responsabilizam seus técnicos pelo mau resultado. Um
gestor afirmar que a culpa do apagão é do técnico que não religou um sistema de
proteção, ou o diretor de hospital culpar uma técnica de enfermagem pela morte
de um paciente é uma tentativa para minimizar suas responsabilidades em sua
esfera de atuação.
A forma como alguém aborda uma questão diz que tipo de causa procura. Sempre que um problema é analisado sob a ótica de qual processo deveria ter sido realizado, a responsabilidade cairá no nível técnico. Com essa visão, nunca uma liderança será culpada por algo que um técnico deixou de fazer. Pois o líder, invariavelmente, estará protegido em níveis conceituais e estratégicos, distante das mãos responsáveis pelas operações.
Isso me
lembra da cena de um filme no qual, ao ser perguntado se matara a vítima, o
bandido responde: "As balas a mataram, eu apenas puxei o gatilho."
Qual o papel dos gestores nos problemas operacionais?
A
função principal de um líder é formar outros líderes. Para isso, deve ser capaz
de demonstrar clareza a respeito dos propósitos da empresa, dos departamentos e
das tarefas. Ao mesmo tempo, inspirar seus colaboradores a ter consciência
sobre a relevância disso tudo. Esse pensamento deve ser um mantra na
organização, assim qualquer pessoa rapidamente percebe quais são os propósitos
mais elevados da empresa e qual sua missão.
Sempre
que um gerente expõe seus técnicos quando eles erram, cria um clima de
insegurança e medo. Todos passam a ter mais preocupação em não errar do que em
alcançar os propósitos. Ficam preocupados em documentar que fizeram sua parte
sem se importar com o todo. Protegem seu emprego em vez de assegurar que a
missão da empresa seja cumprida. E a missão está acima do líder, do time e da
pessoa.
Selecionar, desenvolver, avaliar
Outro
conjunto de tarefas fundamentais do líder é selecionar, desenvolver e avaliar
seus colaboradores. Se o gerente selecionar bem, terá material humano para
desenvolver. Por isso a qualidade da mão de obra brasileira é um problema que
afeta o futuro das organizações. Não se pode desenvolver alguém com má formação
educacional e comportamental. Independentemente disso, é essa mais uma razão
pela qual um técnico não pode ser exposto ao público como o culpado por uma
situação ruim. Afinal, o responsável pela imagem da organização é o líder. Foi
ele quem selecionou o técnico e o desenvolveu. Portanto, não há como o gestor
sério se eximir da responsabilidade pelas falhas.
As
melhores organizações são aquelas em que o líder enaltece seu time quando
atinge um excelente resultado. E quando o mau resultado ocorre assume que foi
ele, líder, quem falhou. Além disso, ao fazer os feedbacks necessários, o faz
em particular e com todo respeito às pessoas que precisam ser alertadas, por
vezes duramente, pois não alcançaram os propósitos da empresa. Ao agir assim, o
gestor cria o clima organizacional necessário para que todos se desenvolvam e
se sintam inspirados a fazer o melhor.
Quando
o gerente possui maus critérios de avaliação, terá como resultado pessoas
incompetentes ao seu redor. Ou seja, profissionais que não são capazes de
cumprir os propósitos da organização. No Brasil, a incompetência não é vista
como uma forma de desonestidade. Isso faz com que líderes sejam paternalistas e
excessivamente generosos com profissionais que não dão resultados. Além de
premiar a desonestidade, digo, incompetência, com o passar do tempo as pessoas
que primam pela excelência e meritocracia acabam esgotadas e deixam a empresa.
O resultado é mediocridade, cinismo e resignação permeando todo ambiente.
É
exatamente isso que vemos ao observar a situação policial no Brasil. Ou a
polícia brasileira é incompetente ou é conivente com o crime. Em qualquer dos
casos, deveria ser desfeita e reconstruída. Aqui em São Paulo, a situação está
flagrantemente fora de controle, por mais generosa que seja a mídia em mostrar
somente alguns dos casos cotidianos.
Se uma
organização é séria quanto ao seu futuro, deve ter um sistema rigoroso de
seleção, desenvolvimento e avaliação de seus profissionais e líderes.
Foco no todo
O líder
que se preocupa apenas com o orçamento e não observa questões importantes no
ambiente e na operação gera condições para toda sorte de erros. Casos recentes
de erros em hospitais são exemplos das consequências dessa conduta. No episódio
em que uma técnica injetou silicone na veia de uma paciente, a simples
observação da imagem é estarrecedora para quem desenvolve líderes: o mesmo tipo
de recipiente de vidro para guardar soro é usado para armazenar silicone! E o
que está escrito no rótulo é a única distinção. No caso da técnica que injetou
café com leite na veia de uma senhora, o mesmo modelo de seringa usado para
alimentar a paciente por sonda é usado para administrar soro. Ou seja, mesmo
tamanho, cor e formato.
Adotar
processos que não levam em conta o fato de seres humanos ficarem sujeitos à
fadiga e desatenção é criar condições para a ocorrência do erro. Isso é uma
escolha inadmissível por parte de líderes: permitir a criação de processos
desumanos. Outros exemplos disso são: carga excessiva de trabalho (executivos
estão trabalhando mais de 14 horas por dia nas empresas, com férias anuais
médias de 10 dias); clima organizacional negativo; pressão insana por
resultados maiores mesmo depois de as pessoas atingirem a meta proposta para o
ano; dirigentes que brigam entre si e colocam profissionais uns contra os
outros, e cobranças e diálogos desrespeitosos que beiram o assédio moral.
O líder
deve buscar resultados, respeitando o orçamento, mas também as condições de
trabalho, segurança, meio ambiente e excelência das operações. Qualquer um sabe
cortar custos, liderar nada tem que ver com isso.
São as pessoas, estúpido!
Finalizando,
não adianta ter tudo isso, se o gerente não se importa com as pessoas. E aqui
há muita controvérsia sobre se esse deve ou não ser o papel do líder. Mais de
uma vez vi técnicos não fazerem procedimentos para os quais foram
exaustivamente treinados. Processos que já executaram repetidas vezes com
excelência. O que teria ocorrido? Ao investigar, descobri que estavam com
graves problemas pessoais, envolvendo desde questões financeiras e
relacionamentos até doenças, mortes e violência na família.
Um
líder que não se preocupa com as pessoas jamais saberá o que passa em suas
cabeças. E é isso que impede um profissional de, conscientemente, observar
regras e procedimentos. Por isso que, em geral, o líder que é mais próximo de
seus colaboradores, que sabe o que ocorre em outras esferas de suas vidas, e
não apenas na profissional, tem maior chance de ser bem-sucedido. Já observei
gestores com centenas de pessoas diretamente sob sua responsabilidade e, ao
mesmo tempo, com uma incrível capacidade de mostrar interesse pelo bem-estar de
todos. Como resultado, reduziram a zero os acidentes nas operações, por longos
períodos de tempo.
Em
síntese, um verdadeiro líder assume responsabilidades, não culpa outros!
Sílvio
Celestino é sócio
fundador da Alliance Coaching e autor do livro "Conversa de Elevador – Uma
Fórmula de Sucesso para sua Carreira".SG
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